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quinta-feira, 6 de maio de 2010


Como faz o balanço desta época futebolística?
Toda a gente sabe que a época foi profundamente marcada pelos túneis, por muito que custe ao senhor António [Pedro Vasconcelos] do Trio d'Ataque e a outros analistas. Esta época não pode ser vista à margem do que se passou tanto no túnel de Braga como no da Luz. Basta ver os resultados que a nossa equipa fez desde que o Hulk regressou: nunca mais deixámos de ganhar.

Mas concorda que o Benfica e o Sp. Braga tiveram uma enorme subida de rendimento nesta época...
Acho que o Sp. Braga fez um campeonato espectacular e que merecia ser campeão, mais que qualquer outra equipa, até mais que o FC Porto. O Sp. Braga fez um trabalho fantástico com jogadores que nenhum dos outros grandes quis e conseguiu chegar à última jornada ainda com a possibilidade de ser campeão.

Considera que há um grande mérito do Domingos Paciência nesta época do Sp. Braga?
Há mérito de toda a gente, a começar pelo presidente e passando por todos os que colaboram: fizeram um grande trabalho porque os sucessos só se conseguem quando todos estão no mesmo barco e a trabalhar bem.No entanto, em entrevista recente à RTP, disse que a boa temporada do Benfica se devia exclusivamente ao treinador, Jorge Jesus...

Aí o mérito já é mais individualizado?
O Benfica vai provavelmente ganhar o campeonato com três pontos de avanço sobre o Sp. Braga. Se tivermos em conta o que se passou nalguns jogos poder-se-ia pôr em causa muita coisa, mas eu não quero ir por aí. Agora acho que o Jesus, com a sua maneira de ser, com espalhafato e entusiasmo, galvanizou o próprio público e a equipa foi atrás. Realmente o grande mérito da vitória do Benfica é do Jesus.

Já pensou nos reforços da equipa para a próxima época?
Temos previstos pequenos reajustamentos. Queremos contratar poucos jogadores, porque entendemos que o principal será recuperar os que tiveram azares. Não podemos esquecer que o Varela se lesionou com gravidade, o Cristián Rodríguez esteve lesionado uma volta completa, o Mariano a mesma coisa... Precisamos de recuperar esses jogadores e tirar rendimento deles, bem como de outros que neste final de época estão a revelar-se grandes valores do plantel, como são os casos do Belluschi e do Guarín.

O facto de o FC Porto na próxima época não ir à Liga dos Campeões condiciona as contratações a fazer no defeso?
Não. Nós só precisaremos de reforços a sério se sair algum dos nossos jogadores imprescindíveis. Foi o que aconteceu este ano: só contratámos o Falcao e o Álvaro (Pereira) porque tivemos de ceder o Lisandro e o Cissokho. Se sair o Falcao, o que não queremos que aconteça, temos de ir buscar um ponta-de-lança do mesmo nível. O FC Porto acabou de vencer o Benfica, sem titulares habituais, como o Helton, o Varela, o Rúben Micael, o Mariano e o Falcao. Não vamos contratar só por contratar. E também não estamos vendedores. No entanto, em quase todas as temporadas o FC Porto tem vendido jogadores muito importantes do seu onze-base.

Esse encaixe financeiro é uma necessidade para reequilibrar as contas do clube?Equilibrar era se as contas ficassem no zero. Nós tivemos no último exercício um lucro de 26 milhões. As vendas foram para desequilibrar positivamente as contas...Mas na próxima época não vai ter as receitas extraordinárias da Liga dos Campeões...Claro que é importante, mas não é por causa disso que vamos vender jogadores. Não posso é garantir que nenhum sai porque pode aparecer um clube a bater o valor da cláusula de rescisão de determinado atleta.

Acha que com o actual plantel pode discutir o título no próximo ano?
Acho. Vamos recuar à decisão do Conselho de Justiça da Federação, quando o Hulk voltou a jogar: foram nove jogos, nove vitórias, alguns deles difíceis, como este último contra o Benfica, em que jogámos meia hora com dez jogadores.
Se esta equipa não pode lutar pelo título, então quem é que pode?

E a questão do técnico da próxima época já está resolvida ou está ainda em discussão?
Não está em discussão sequer. O técnico tem contrato para o ano, só os adjuntos é que não têm. Como sempre, com ou sem contrato, só no final das épocas se decide isso. Tem sido sempre assim! Há um ano o Jesualdo já tinha sido colocado em vários clubes e no final da época conversámos, vimos o que era melhor para ambas as partes, e decidimos renovar. Posso garantir-lhe que nunca falei sobre isso com o Jesualdo, nunca falei com nenhum hipotético treinador, nem nunca falei com algum colega da direcção. No final da época vamos conversar.

A decisão sobre quem vai ser o treinador pertence só ao presidente do FC Porto?Exactamente, mas é evidente que o presidente do FC Porto antes de tomar uma decisão vai ouvir muita gente.

E isso não aconteceu?
Não, não ouvi ninguém. Não troquei uma palavra com qualquer director sobre isso.

Jesualdo Ferreira é um treinador especial no FC Porto por ter sido campeão e ter um período mais alargado de gerência?
Bateu um recorde. Mas já cá puseram o Paulo Bento, o Paulo Sérgio... Hoje vêm mais dois estrangeiros... Não há nenhum treinador que possa dizer que foi minimamente sondado por alguém do FC Porto.

O FC Porto tem reconhecidamente uma boa escola de formação. Não pensa que podia aproveitar melhor alguns jovens valores que estão emprestados a outras equipas?
Para o ano, o Ukra, por exemplo, já está decidido que vai ficar no plantel. Os técnicos é que avalizam quem fica. Nenhuma direcção manda um jogador embora se o técnico os quiser, até porque é mais fácil ficar com os nossos.

O projecto Visão 611, que entre 2006 e 2011 queria transportar alguns jovens jogadores para a equipa principal do FC Porto, não tem sido muito aproveitado...
No futuro, estou certo de que o FC Porto vai ter muito mais jogadores formados no clube no seu plantel principal. Estamos a desenvolver um grande trabalho de formação no Vitalis Park e a pensar em abrir escolas Dragon Force, com técnicos nossos, no país e no estrangeiro.

O que o leva a recandidatar-se à presidência do FC Porto?
Pela positiva, o facto de ser um sonho de todos os sócios ter um museu à altura dos pergaminhos do clube, um verdadeiro museu, não uma sala onde estejam taças em exposição. Esse é o grande objectivo para este mandato. Pela negativa, recandidato-me por termos perdido o título de campeão nacional de futebol. Neste cenário, seria mais difícil a sucessão, até porque ninguém se assumiu como candidato. A minha lista entrou apenas no último dia. Se entrasse alguma lista credível antes da minha, ninguém poderia apontar-me o dedo por ter abandonado o barco. Além disso, temos dois desafios grandes: a estabilidade económico-financeira de todo o grupo, dando força à marca FC Porto, e em termos desportivos queremos manter a bitola de todas as nossas equipas lutarem sempre pelo primeiro lugar.

O museu do clube vai localizar-se onde?
Vai ser onde era o bingo. É uma área com 5 mil metros quadrados, num local privilegiado, que integra o próprio estádio e tem facilidades de acesso a pé ou de metro, já que tem uma estação à porta. Qual é o prazo para concretizar esse sonho?Não temos prazo, mas tem de ser obviamente durante este mandato.

Falou-nos também da estabilidade económico-financeira como um dos seus desafios para o próximo mandato. Tem alguma explicação para o facto de Fernando Gomes, o responsável por essa área, ter saído da administração da SAD do FC Porto?
Não, não tenho. Ele a mim disse-me que estava cansado, que ia descansar seis meses. Felizmente, descansou mais rápido do que previa porque cessou funções na SAD em Fevereiro e em Março já era candidato à presidência da Liga de Clubes. Saiu contra a minha vontade, mas é uma decisão que tenho de respeitar. Não quero ninguém forçado nem desmotivado a trabalhar no FC Porto. Ele até usou uma frase que é minha: na primeira reunião que eu fiz como presidente, há 28 anos, entre muitas coisas, eu disse que só ficaria enquanto ao acordar me sentisse satisfeito por ir servir o FC Porto. E ele disse-me que já não sentia prazer nem motivação para vir trabalhar na SAD. Tenho de respeitar a sua vontade e a única coisa que espero é que, se ele for presidente da Liga, tenha a mesma motivação que teve nos nove anos que trabalhou no FC Porto.

Isso é um incentivo à candidatura de Fernando Gomes à presidência da Liga?
Não. Antes de Fernando Gomes ser candidato tomámos a posição de nos abster de apoiar alguém nas eleições da Liga. Mantemos essa posição, embora haja uma excepção: decidimos expressamente apoiar a candidatura de José Luís Arnaut à presidência da assembleia-geral, até cheguei a propor o nome dele para presidente da direcção, mas disseram-me logo que era impossível. Há alguns dias o próprio José Luís Arnaut ligou-me a perguntar se era seguro que eu apoiava a sua candidatura e eu respondi-lhe que sim. Para a assembleia-geral vamos votar nele. O resto dependerá: há nomes e equipas de que se fala com os quais não podemos concordar.

Está a referir-se a que nomes?
Por exemplo, na Comissão de Arbitragem, se forem os mesmos [Vítor Pereira como presidente], já decidimos que nos vamos abster, tal como para a direcção. Entendo que a forma como a Liga tem tratado o FC Porto não merece o nosso empenhamento neste processo. Entre outros objectivos do mandato referiu a estabilidade financeira do grupo FC Porto...

Isso quer dizer que está preocupado ou que há um plano nesse sentido?
Há um plano, e ainda hoje (quarta-feira) estive a falar com Angelino Ferreira sobre isso, para dar mais estabilidade e tentar diminuir os passivos de todas as sociedades e para solidificar cada vez mais o grupo FC Porto.

Mas isso passa por um menor investimento no futebol?
Não tem nada que ver com isso.

Como se mantém a competitividade de uma equipa de futebol que se quer mais forte com essa contenção dos custos?
Talvez rentabilizando melhor os investimentos feitos. Se há ano em que fomos felizes com as contratações, foi este: ninguém põe em dúvida que o Falcao é um super-reforço. O Álvaro (Pereira) idem, o Rúben Micael e o Silvestre Varela a mesma coisa e o Belluschi já todos reconhecem hoje que de facto é um talento. Haverá a excepção do Prediger, que não se adaptou, mas também porque não teve oportunidades.

Como vê a situação social da região Norte?
É uma catástrofe: pelo desemprego, pela falta de investimento, pela desmotivação, pela falta de uma voz política... Podemos verificar nos próprios partidos em que aqueles que são considerados como vozes do Norte não contam. Li no "Grande Porto" e fiquei muito chocado que, num almoço entre Francisco Assis e Aguiar-Branco, Francisco Assis tenha dito que um bom candidato a líder de uma futura Região Norte seria Rui Rio, porque era muito bem-visto em Lisboa... Até foi referido por alguém que ele ganhou aquela popularidade devido à guerra que fez contra o FC Porto... Nem no PSD, nem no PS existem vozes fortes do Norte. A última foi Fernando Gomes. A partir da sua saída, o Porto deixou de ter voz.Os partidos estão centralizados...O problema não é esse... Quando Assis, que é um homem do Norte, que já foi presidente da Câmara de Amarante e conhece as dificuldades da região, acha que o Rui Rio é bom candidato porque está bem visto em Lisboa, é óbvio que não há que esperar nada dos actuais partidos em termos de regionalização ou autárquicos: o que é que a Câmara do Porto podia esperar dos candidatos às últimas eleições?

Mas Elisa Ferreira, apoiada por si, não era uma boa candidata?
Era, mas partiu com mais de metade da concelhia do PS Porto contra ela, sem apoios, com intrigas. Mas isso é de um partido que quer ganhar a câmara? Estamos a brincar... Isso é de um partido que se está a marimbar para a câmara.

Não vê alternativa neste momento?
Não, enquanto o Porto não tiver na câmara uma figura nacional, mas do Porto, que não tenha apenas voz por fazer guerra ao FCP. Tanto PS como PSD têm excelentes candidatos. Coloquem Aguiar-Branco ou Castro Almeida na presidência e depois vejam se o Norte não tem voz...Há movimentos à margem dos partidos pela regionalização. De boas intenções está o Inferno cheio. Uma vez, houve um indivíduo que queria fazer um partido nesses moldes e me contactou. Passado uns tempos disse-me: "Olhe, mudei de ideias." Quantas pessoas já viu a favor da regionalização que depois mudaram de ideias?

Mas também há os que já foram contra e agora são a favor...
Isso é porque lhes doeu na pele. Mas eu não acredito que vá haver regionalização tão cedo, porque os dois principais partidos não a querem. Não quer dizer que não haja algumas figuras nos partidos que a queiram... Se houvesse um movimento de pessoas a lutar pela regionalização, eu acreditava mais.

Quando vai a Lisboa sente que não se percebe o discurso regionalista?
Perceber, percebem. Eles não são burros! Mas não querem. Porque é que hão-de querer largar o poder? Houve um governo, creio que de Guterres, que pôs duas secretarias de Estado no Porto, mas depois viram que tinham de vir cá muitas vezes. O raciocínio imediato foi: "Então porque não hão-de eles vir cá abaixo?"

O FCP é incómodo porque inverte a lógica centralista do país?
Não me posso esquecer que no dia em que o FCP jogou com o Benfica a final da taça da cerveja (Taça da Liga ou Carlsberg Cup), o primeiro-ministro veio desejar publicamente a vitória do Benfica. Naturalmente que ele não tem nada contra o FCP, até porque ele nasceu no Porto, embora se diga que é de Castelo Branco. Ele tem bom relacionamento comigo, aliás, até tenho simpatia por ele. Agora, veio quase pôr o Benfica novamente no papel de clube do regime. Estou curioso para ver quantos ministros e secretários de Estado vão estar no Estádio da Luz no domingo.

A Taça de Portugal vai ser a oportunidade de o FC Porto fechar uma época menos boa com a conquista de um troféu nacional...
Estou convicto que sim, é mais uma taça. Dizem que é contra o Desportivo de Chaves, mas não tem menos valor por isso. Não temos culpa de o Benfica e o Sporting terem sido eliminados; não estão na final porque foram eliminados.

Sendo entre dois clubes nortenhos, acha bem que a final se jogue no Estádio do Jamor, a tantos quilómetros de casa?
Essa polémica não leva a lado nenhum, mas há de facto uma grande incoerência. Se o estádio tem condições para uma final da Taça de Portugal, porque é que a selecção nacional não joga lá? Até já houve um morto num Sporting-Benfica e eu até já estive lá cercado dentro de um autocarro há muitos anos, portanto, não se pode dizer que não há perigo. Eu sei que este ano, dado que o país está próspero, que a gasolina está barata e que as auto-estradas são de borla, Chaves vai lá cair em peso, porque não tem desempregados e toda a gente é rica. Fazer mil quilómetros para ver um jogo de futebol não é sacrifício nenhum...

Tem esperanças na prestação da selecção nacional no Mundial da África do Sul?
A nossa campanha foi limitada pelos resultados infelizes que tivemos de entrada, que marcaram a aflição com que nos apurámos. A chave da nossa campanha no Mundial vai ser o primeiro jogo. Se ganharmos à Costa do Marfim, não tenho dúvidas de que vamos ser apurados para a segunda fase e aí tudo pode acontecer. Portugal tem potencial para chegar longe e digo-o numa perspectiva racional. Espero que o seleccionador dê a todos espírito de equipa e que ninguém vá para o Mundial para mostrar que é melhor que outros.

Mantém uma relação cordial com o actual seleccionador, Carlos Queiroz?
Excelente. Tenho mesmo uma relação de amizade.

Pode dizer-se que lhe agrada o facto de Queiroz ser português e suceder a quem sucede?
Não, não... Ser sucessor de quem é não tem nada que ver. Eu prefiro sempre para Portugal um seleccionador português. Não lhe faz confusão a naturalização de jogadores?Não, nenhuma. Mas claro que não gostaria de ver uma selecção com 11 jogadores naturalizados.

(*)
Porque me chegou aos ouvidos que a entrevista foi dada ao Semanário Grande Porto e só aparece no jornal I porque é do mesmo grupo, achei por bem alterar o título do post...

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