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sexta-feira, 7 de julho de 2017


«É com a frontalidade que se lhe reconhece que Sérgio Conceição abraça o desafio de devolver o FC Porto aos títulos. De regresso a uma casa que lhe diz muito, e na qual conquistou muito enquanto jogador, o treinador explicou à DRAGÕES o que o levou a deixar o Nantes para voltar ao clube do coração, mesmo que tudo se tenha desenrolado pouco tempo depois de renovar contrato com o emblema francês. Nesta entrevista, Sérgio Conceição aborda o passado, o presente e o futuro, apontando as características que pretende ver na equipa, ainda que, quem se recordar da sua versão jogador, saiba que intensidade é coisa que não irá faltar. Sem nunca esconder os fortes sentimentos que o movem nesta nova etapa da carreira, Sérgio Conceição garantiu ser um homem de muita fé, e é nessa fé que se sustenta, além da qualidade e competência, para acreditar que o FC Porto terá motivos para festejar lá mais para frente. Aos adeptos, que para ele são o 12.º jogador, deixa a promessa de que todo o grupo fará tudo para lhes dar as alegrias que merecem.

Deixar um clube pelo qual tinha renovado há pouco tempo, e depois de um percurso muito positivo, foi a decisão mais difícil que já tomou enquanto treinador?
Foi seguramente uma decisão difícil, talvez a mais difícil, mas também a mais importante.Importante no sentido da oportunidade que surgiu, de vir treinar um clube que tem uma dimensão diferente do Nantes. Disputar a Liga dos Campeões também é sempre atrativo para um treinador. Além disso, foi uma decisão pensada, ponderada, não fácil, também por motivos de saúde da minha mulher. Tudo isto aliado a este projeto e a este clube de dimensão mundial, como é o FC Porto. Foi uma decisão difícil, pois criei uma relação fantástica com as pessoas em Nantes, onde fizemos um trabalho muito bom. Depois de mais de dez anos de presidência e depois de ter passado duas vezes pela Segunda Divisão, o presidente do Nantes viu a forma como trabalhávamos e a exigência com que o fazíamos, não só com os outros, mas também connosco. Sou exigente com os outros, mas também comigo próprio. Ao fim de dez anos, o clube chegou a um patamar no qual nunca tinha estado. Este divórcio foi difícil para todos. Para o clube, para os adeptos e para mim também, mas a vida é isto. Porque é que não se vê as coisas de outra forma? Renovo contrato e um mês depois aparece um clube como o FC Porto. Não posso sair porquê? Não fiz nada de grave, não enganei ninguém e fui completamente direto e correto com as pessoas. Depois de saber do interesse do FC Porto, no dia seguinte de manhã estava em Nantes para dizer isso cara-a-cara ao presidente. Foi uma atitude correta da minha parte. Sei que não é fácil, principalmente para as pessoas de Nantes, mas a vida é isto.  

Quão importante foi o papel do presidente Pinto da Costa neste regresso? 
Foi muito importante. Sabemos o peso, a dimensão e a grandeza do nosso presidente. Ele conheceu-me quando vim para aqui com 16 anos, por isso já são muitos anos. Passei por aqui duas vezes como jogador e há uma ligação forte entre o presidente e eu. De qualquer forma, não foi por essa ligação que ele pensou que eu pudesse ser uma solução para o FC Porto, para acabar com este jejum de quatro anos no que diz respeito ao campeonato, e que não é muito habitual no nosso clube. O presidente foi fundamental neste processo.

É legítimo afirmar que treinar o FC Porto é, para si, um sonho tornado realidade?
Não vejo as coisas dessa forma. É uma questão de competência. É como um jogador de 19 anos que as pessoas podem considerar imaturo. Há jogadores de 19 anos que são fantásticos e mais maduros do que alguns de 35. É certo que as pessoas podem pensar que cheguei ao FC Porto sem ganhar nada, mas ganhei muita coisa ao nível a que treinei. Para se ganhar, é preciso um projeto como este, por exemplo. Se o FC Porto não conquistar títulos, aí sim, será uma desilusão e uma frustração para mim. Em todos os projetos nos quais estive inserido consegui algo para essas equipas. Todos os treinadores do mundo chegaram àquele momento em que começaram a ganhar e, salvo raras exceções, foi quando tiveram equipas ou clubes com esta qualidade para o conseguirem.

Esperava chegar ao FC Porto apenas seis anos depois de ter iniciado a carreira de treinador principal?
Pensava chegar antes, muito sinceramente. Sinto que nos primeiros anos fiz um trabalho de qualidade e também sei o momento em que se aposta muito no treinador jovem português. Dantes tínhamos muitos treinadores estrangeiros e hoje é difícil encontrar algum em Portugal. Os três grandes têm treinadores portugueses e antigamente isso era quase impossível. Os treinadores portugueses têm demonstrado que têm qualidade. Estou completamente confiante e convicto de que vamos fazer um bom trabalho. E nada disto me assusta ou me faz pensar que este é um passo maior do que a perna.

Como se desenrolou, afinal, o processo de desvinculação com o Nantes? Há coisas que as pessoas não sabem e precisam saber?
Antes de renovar com o Nantes, o presidente apertou-me a mão, disse-me que, se aparecesse um clube de maior dimensão, não me “cortaria as pernas”. E não foi assim, não foi nada disso. A juntar a isso, o presidente sabia do estado de saúde da minha mulher e, inclusive, uma das reuniões que deveríamos ter após o final da época foi cancelada, pois ela teve de vir de urgência para o Porto para ser operada, pela segunda vez. A maior parte das pessoas não sabia que existia aquele compromisso verbal que, para mim, como eu sou, vale tanto ou mais do que uma cláusula ou uma folha assinada. Isso não foi respeitado e tentou-se ao máximo complicar a minha saída. Eu compreendo, por tudo o que já disse anteriormente, que as pessoas tenham ficado desiludidas e frustradas com a minha saída, mas isto é o futebol. É bom sinal que tenha surgido o FCPorto, pois significa que fizemos um bom campeonato e que as coisas correram bem em Nantes. Não quero estar a alimentar mais cenários nem a dar continuidade a esta novela. A novela acabou.

Quais foram as sensações no momento em que voltou a entrar no Estádio do Dragão e a pisar o relvado?
Foi um misto de alegria e de alguma tristeza e nostalgia, por não estarem comigo as pessoas que neste momento estariam hiper-felizes, que são os meus pais. Foi um misto de emoções e sensações que senti. É uma grande responsabilidade treinar uma equipa que tem obrigatoriamente de estar ligada à conquista de títulos. É isso que me faz levantar diariamente e estar aqui de corpo e alma. Eu e os jogadores, como é óbvio.

Já teve oportunidade de estar no balneário. Essa tem de ser uma das mais-valias da equipa na próxima época, o balneário e o espírito que nele tem de haver?
Ter um balneário forte é fundamental, porque haverá momentos menos bons, nos quais teremos de superar as dificuldades. As épocas são assim. A base para se criar uma equipa competitiva tem a ver com um balneário forte e com esse espírito que tem de se ter. Esse espírito não é, com certeza, andarem todos aos beijinhos e aos abraços. Esse espírito é o respeito que têm de ter uns pelos outros e a ambição, dedicação e determinação com que treinam. Prefiro ter jogadores que dizem o que pensam no balneário do que gente que dá abraços mesmo quando as coisas não correm bem. Não é assim, tem que haver de tudo. Um balneário forte é fundamental para se ganhar. Obviamente que sou eu o primeiro a criar esse balneário forte, mas também passa muito pelos jogadores. Essa vontade de conquista tem que estar presente todos os dias, mas não é só de boca. Os jogadores têm que interiorizar isso. É como precisarmos de água e comida todos os dias para sobrevivermos. Eles têm que sentir que essa dedicação, essa determinação e esse trabalho diário é o que nos vai dar a vitamina para chegarmos aos jogos e estarmos mais perto de conquistar os três pontos.

Em entrevista à DRAGÕES de dezembro de 1996, ainda um jovem jogador de 22 anos, disse: “Mais do que entrar para ganhar, que é uma característica do FCPorto, entramos para dignificar uma causa, uma camisola. E isso dá muita força”. Esta é uma das mensagens que vai lembrar constantemente aos jogadores?
É importante, apesar de hoje ter mudado um pouco esse estado de espírito. Lembro-me que, na altura, mesmo no onze titular, mais de metade da equipa era formada no FC Porto. Claro que é uma das coisas que temos de passar aos jogadores, mas sei que não é fácil passar esse tipo de sentimento, que estava tão presente na minha equipa e nos jogadores que jogaram comigo. Mas é possível e é algo que também vamos trabalhar.

Que características quer ver no seu FC Porto?
Independentemente de ser uma equipa grande e de as pessoas valorizarem muito aquilo que é a posse de bola e o jogo bonito, para mim, jogar bonito é ganhar. Obviamente que, se nós pudermos aliar a vitória a grandes espetáculos, sou o primeiro a ficar feliz. Gosto sobretudo de uma equipa que seja objetiva, agressiva, no bom sentido, e que tenha intensidade. São características fundamentais numa equipa que quer ganhar títulos. Que seja uma equipa de golo, mas que também saiba que tem de estar atenta defensivamente. Tudo isso faz parte daquilo que é o equilíbrio de uma equipa e nunca podemos dissociar a fase defensiva da fase ofensiva, e vice-versa. Mais lá para frente poderemos falar sobre
aquilo que é a dinâmica da equipa. Tal como já tive oportunidade de dizer, já ninguém ganha no grito, é preciso competência, saber o que se faz e qualidade no trabalho. Nós, enquanto equipa técnica, temos essa qualidade e competência para estar num clube como o FC Porto. Queremos passar por momentos
felizes e conquistar títulos, pois foi para isso que viemos.

Acredita que os adeptos podem ser bons aliados do treinador no que diz respeito ao crescimento da equipa ao longo da época?
Sem dúvida, ainda que nunca possamos esquecer que os adeptos são muito exigentes. Vivem com o FC Porto no coração e essa paixão, por vezes, pode levar a momentos ou situações menos agradáveis. Por isso temos de compreender os adeptos. De promessas e desculpas estão os adeptos cheios. Eu falo de títulos, pois isso é normal para quem está no FC Porto. Fazer promessas e dar desculpas é normal nos treinadores. Estamos aqui para trabalhar e os resultados vão surgir naturalmente.

É ainda mais difícil gerir as expectativas dos adeptos depois de quatro anos sem conquistar o campeonato?
É difícil, porque os adeptos do FC Porto habituaram-se a ganhar. Nos últimos 25/30 anos, o FC Porto ganhou muitos títulos nacionais e internacionais, por isso não está habituado a estar quatro anos sem ganhar, à exceção de uma Supertaça. Temos essa responsabilidade, que é uma boa responsabilidade dentro de um mau momento. Temos que ganhar e essa é uma situação clara nesta casa. Não fugimos a essa responsabilidade. A exigência dos adeptos poder-se-á notar aqui ou acolá, mas nós não podemos funcionar consoante o humor dos adeptos. Temos é que fazer tudo para dar alegrias aos nossos adeptos, isso é o mais importante. Momentos menos bons vão acontecer com certeza, mas os adeptos vão perceber que têm uma equipa que vai dar tudo em campo. Isso é algo fundamental para o adepto do FC Porto. Até se pode perder, mas perder é uma palavra que não entra no nosso vocabulário e tudo depende da forma como se perde. Gosto dos adeptos que vibram, pois eu também sou assim como treinador e já era assim como jogador. Não é agora que vou mudar.

O Sérgio Conceição é hoje um treinador menos emotivo e efusivo ou, se preferir, mais comedido?
Não programo nada e tudo me sai de forma natural. Há momentos em que vou gritar lá para dentro e outros em que estarei mais tranquilo, mas tudo depende do jogo. Quando tiver que festejar, festejo, corro e salto. Mas essa é a minha forma de estar e de ser. Não é agora que vou mudar e nem me sentiria bem a fazê-lo.

A composição do plantel é sempre uma incógnita até ao fecho do mercado, mas são expectáveis muitas mudanças em relação ao da época passada?
Não muitas, apesar de já terem saído alguns jogadores. É conhecido o momento difícil em termos financeiros e todas as restrições que temos a esse nível, mas não quer dizer que eu e o presidente não estejamos a preparar a entrada de um ou outro jogador que consideramos importante. O FC Porto também tem jogadores que estavam emprestados e que têm valor para fazer parte deste grupo.

Confirma, então, que alguns jogadores que estiveram emprestados na época passada têm boas possibilidades de fazer parte do plantel?
Acho que sim. Por norma, temos tendência a dar mais valor a quem está fora, noutros campeonatos, mas eu não vejo as coisas apenas dessa maneira. O campeonato português é difícil, competitivo e atrativo. Vi que o FC Porto tinha jogadores emprestados que agora têm todas as possibilidades de fazer parte deste grupo e até fazer parte da equipa titular várias vezes.

Aquando da sua apresentação, entre outras coisas, disse que gosta de potenciar jogadores e fazê-los crescer. Acredita que no FC Porto existe muito talento para ser trabalhado?
Há talento e qualidade, sem dúvida, mas isso é uma consequência normal do trabalho. A forma como se treina e como jogamos vai naturalmente fazer os jogadores crescer e evoluir. Ao longo da minha carreira tenho conseguido fazer isso, até porque não me incomoda nada lançar jovens na equipa. Não me importa a cor do cabelo, a cor da pele, a nacionalidade ou até o estatuto, desde que o jogador dê a resposta que eu quero dentro do campo. Espero que no FC Porto isso aconteça com alguns jogadores e que no fim desta época, além de sermos campeões nacionais, que é o nosso principal objetivo, possamos proporcionar algumas vendas fantásticas para o clube. É o trabalho do treinador também.

Com o Sérgio Conceição vamos ter um treinador ainda mais atento aos talentos da formação?
Um dos meus primeiros pedidos quando cheguei foi para colocarem sempre no meu gabinete os jogos e os resultados das nossas equipas de formação. Gosto de acompanhar e olho para a formação com bons olhos. Depois, as oportunidades que alguns terão, ou não, depende deles. Mas existe essa ligação entre a equipa principal e as outras, sobretudo a equipa B, na qual o Folha está a realizar um grande trabalho.

Há jogadores do plantel da época passada que considera imprescindíveis para aquilo que são as suas ideias?
Há vários e já tive essa conversa com o presidente. Aliás, numa das primeiras conversas que tive com ele, disse-lhe que devíamos guardar ou ficar com uma base importante da época passada. Não podemos esquecer que o FC Porto não foi campeão no ano passado por um ou outro empate. Ou seja, tinha já na época passada um grupo com qualidade e é dentro desse caminho que queremos continuar.

Vamos ter um FC Porto fiel ao seu histórico 4-3-3 ou são de esperar novidades?
Creio que são de esperar algumas novidades. Claramente há sempre um sistema ao qual somos fiéis e no qual acreditamos, dependendo das características dos jogadores, mas também há sempre um sistema alternativo. São coisas que se trabalham e das quais poderei falar mais tarde, com muito gosto, mas nesta fase inicial prefiro não me alongar sobre isso.

As equipas de Sérgio Conceição têm, por natureza, uma vocação ofensiva?
Sim, eu gosto de equipas ofensivas, mas também gosto de ser equilibrado naquilo que é o jogo. Não podemos esquecer que ser forte ofensivamente pode trazer dissabores a nível defensivo, por isso tem que haver sempre esse equilíbrio. Não podemos dissociar as duas organizações, mas isso tem de ser trabalhado. Não escondo que gosto de equipas ofensivas, que sejam objetivas na procura do golo. Há um princípio básico da organização ofensiva: se tivermos cinco jogadores no último terço, o adversário tem que ter seis, ou sete, ou oito, contando com o guarda-redes. Isto para dizer o quê? Não podemos atacar com medo. Tudo se trabalha e a seu tempo vamos poder falar disso também.

O FC Porto teve, na época passada, uma das melhores defesas da Europa. Acredita que a equipa pode tornar-se mais forte se juntar a isso uma maior ambição ofensiva?
É muito importante, mas isso é o trabalho dos treinadores. E começa por essa base, que é importantíssima: não sofrer golos. Guardar o zero é o único resultado que nos permite não perder ou conquistar pontos, e aí estamos mais próximos de ganhar. Essa coesão e essa qualidade defensiva que o FC Porto demonstrou na época passada, se conseguir equilibrar com a mesma qualidade em termos ofensivos, claramente teremos um FC Porto mais próximo  de ser campeão. São aspetos que vimos, analisamos e pensamos, que passam por tudo o que falei.

O FC Porto do treinador Sérgio Conceição vai ser um reflexo do jogador Sérgio Conceição, que corria, jogava e festejava como se não houvesse amanhã?
Essa é uma expressão engraçada. Espero que sim, que seja esse FC Porto. Que corra, sim, mas que corra de forma organizada. Correr, por si só, não basta, não é bom. Por acaso há uma estatística engraçada da época passada: no Nantes, frente a todos os adversários, fomos a equipa que correu mais, mas corria bem. Tivemos sempre mais seis, sete, oito, nove, dez quilómetros do que o adversário, o que é muito. Isso é um reflexo do treino, tem que ser preparado e treinado. Os jogadores devem ter essa intensidade, de correr, jogar e festejar como se não houvesse amanhã. É isso que vou procurar incutir-lhes.

A conquista do campeonato será como que uma obsessão saudável esta época?
Ainda só tive uma pequena conversa com o grupo sobre isso, mas aquilo que senti é que os jogadores estão conscientes de tudo. Viu-se a qualidade humana do grupo, ao não culpar ninguém e culparem-se a eles, que nos momentos em que tinham de ter o tal clique para passar para primeiro lugar não o tiveram. Eles estão conscientes disso e há essa espinha atravessada no grupo. Eles têm de pensar nisso, mas não carregar isso como se fosse um peso. Uma das coisas de que mais gostei até agora foi a alegria com que eles treinam, e isso é fantástico. Isso, transportado para o jogo, é ótimo, sempre com responsabilidade pelo clube que estamos a representar e pelo objetivo do jogo, que é ganhar. Essa espinha atravessada é boa para, em certos momentos, pensarmos no que devemos fazer e que não fizemos no ano passado. Acredito que não é só um treinador que perde, é toda a gente que faz parte do FC Porto que perde. Temos que melhorar em certos aspetos e é para isso que aqui estou, para tentar melhorar e dar sequência ao que foibem feito, porque houve coisas bem feitas, como a coesão defensiva, por
exemplo.

Quais são os objetivos que têm obrigatoriamente de ser traçados?
No FC Porto quase nem é preciso falar em objetivos. Em todas as provas nacionais que vamos disputar, somos obrigados a lutar por elas até ao fim. Não há nem pode haver outro pensamento. Claro que o campeonato é o grande objetivo do clube, mas há a Taça da Liga e a Taça de Portugal, e ainda a Liga dos Campeões. Claro que é sempre difícil projetar alguma coisa, pois não sabemos o grupo em que estaremos inseridos, mas queremos passar à fase seguinte numa prova importante, pelo prestígio e em termos financeiros. Aqui, não descuramos nada e entramos em todos os jogos para ganhar. São objetivos naturais para quem vem trabalhar para uma casa destas.

Havia quem defendesse que o FC Porto a jogar fora era uma equipa diferente da que jogava em casa. O estádio pode fazer assim tanta diferença no rendimento de uma equipa?
Se pensarmos que só em casa é que somos fortes, estamos a limitar a nossa qualidade. A mensagem que passamos é que todos os jogos são para ganhar, seja em casa ou fora. Obviamente que jogar no Estádio do Dragão, perante os nossos adeptos, é especial. Eles são a nossa força, verdadeiramente o nosso 12.º jogador. Fora, temos de ser nós, unidos e com os adeptos que nos acompanharem, a criar essa força. Para um clube como o FC Porto não pode pesar jogar em casa ou fora.

Como é que vê a introdução do vídeo-árbitro? Acredita que será benéfico para a justiça desportiva?
Estou completamente de acordo com tudo o que contribua para haver mais verdade dentro do próprio jogo, mas não gosto muito daquelas paragens de 30 segundos, pois quebram o ritmo. Já vi, inclusive na Taça das Confederações, alguns erros mesmo com o vídeo-árbitro. Não nos podemos esquecer de que são pessoas que estão a analisar aquilo. Vai, se calhar, minimizar aquilo que é o erro do árbitro no momento, mas isso também é a paixão do jogo, há erros. Na época passada, em vários momentos, se houvesse vídeo-árbitro, se calhar hoje estaríamos a falar de uma situação diferente do FC Porto. De qualquer forma, não podemos pôr o futebol cheio de tecnologias e perder aquilo que é a verdadeira paixão e essência do jogo, mas se pudermos minimizar o erro, ainda melhor.

Acredita, por isso, que os árbitros vão errar menos do que erraram, por exemplo, na época passada?
Penso que sim, que isso é evidente.

Como é que o Sérgio Conceição se definiria enquanto treinador?
Não gosto muito de falar de mim, mas diria que sou exigente, sem dúvida nenhuma. Sou exigente, rigoroso e gosto de disciplina. Gosto de jogadores ambiciosos, pois eu próprio sou ambicioso. Sou um treinador que trabalha muito aquilo que é a intensidade, pois gosto de uma equipa intensa. É importante haver essa intensidade e essa procura da baliza contrária. As equipas são a imagem do seu treinador, mas o treinador é mais do que o campo. Há variadíssimas situações que temos de analisar e controlar.

De que princípios e valores nunca abdicará?
A minha frontalidade, a minha honestidade e a minha sinceridade. Acho que os próprios jogadores sentem e sabem isso, que uma das maiores qualidades de um treinador é ser genuíno. É importante um treinador ser genuíno e honesto com os jogadores, pois num momento 11 estarão felizes e os outros não. Além disso, é claro que é necessário competência e qualidade.

Com apenas 21 anos estreou-se em jogos oficiais com a camisola da equipa principal do FC Porto precisamente num dos episódios mais deliciosos da história do FC Porto. Na Supertaça, ganhou 1-0 nas Antas e 5-0 na Luz. Como foi viver aqueles momentos logo na estreia, acabadinho de chegar ao plantel sénior?
Estive três anos emprestado e regressei ao FC Porto para fazer a pré-época, com o aval do treinador na altura, o António Oliveira. Vivi tudo aquilo com muita intensidade, pois era um sonho que tinha: chegar à equipa principal e jogar com jogadores que, para mim, eram ídolos. Cheguei a jogar com o João Pinto, o Rui Barros, o Domingos, o Vítor Baía… e era um sonho estar ali. Vivi esses momentos de forma tão intensa, com tanto prazer e tanto gosto, que há situações das quais nem me lembro. O 5-0 foi uma alegria enorme, ainda por cima no Estádio da Luz. São momentos marcantes e que resultavam da intensidade com que vivíamos o nosso dia-a-dia. Lembro-me, de uma forma geral, daquilo que era o espírito, a vontade de ganhar, os princípios e a forma de ser da equipa e de cada um
de nós. Era fabuloso.

Imaginamos que não tenha esquecido o seu jogo de estreia depois do regresso ao FC Porto em janeiro de 2004, até porque fez um dos golos da vitória. Lembra-se do treinador do Vilafranquense na altura? Era o Rui Vitória. Isso é um bom prenúncio?
Já não me lembrava disso e não deixa de ser engraçado. Oxalá que sim, que seja um bom prenúncio.

Na sua apresentação, o presidente disse que estava no seu “estádio de sonho”, mas o Sérgio tem mesmo saudades é do ambiente do Estádio das Antas, certo?
O Estádio do Dragão é fantástico, é um dos estádios mais bonitos do mundo, mas as sensações do Estádio das Antas são difíceis de passar. O cheiro do balneário, da relva, etc. O Estádio das Antas está ligado a momentos muito felizes para mim e isso deixa sempre recordações fantásticas. Nos seis meses de Estádio do Dragão, não joguei tanto, mas ganhámos o campeonato e viríamos a ganhar a Liga dos Campeões, competição na qual não pude jogar pelo FC Porto nessa época por já ter jogado pela Lazio. Foi um ano muito bom para a equipa, mas não tão bom para mim. Daí ter mais recordações especiais do Estádio das Antas.

É um homem de fé?
Muita, muita fé.

Acredita que em maio a família portista voltará a ter motivos para sorrir?
Acredito muito. Estou plenamente convencido de que vamos ganhar o campeonato.

As perguntas dos adeptos
FERNANDO LEITE
Qual vai ser o maior desafio enquanto treinador do FC Porto?
O maior desafio será acabar com estes quatro anos de jejum. É um desafio, mas é um desafio aliciante.

NÉLSON RIBEIRO
Qual é o fator mais importante na relação equipa adeptos
e na relação treinador-adeptos?

O respeito entre todos é essencial, e o respeito conquista-se com trabalho, nos bons e nos maus momentos.

PEDRO TEIXEIRA
Qual a filosofia de jogo que pretende implementar? Em que princípios se sustentará a identidade da equipa?
Como já tive oportunidade de dizer, o FC Porto será uma equipa que vai dar sempre tudo em campo, seja em casa ou fora, e seja qual for o adversário. Vamos dar muito trabalho aos nossos rivais e vamos lutar até ao fim por todas as vitórias, por todos os títulos.

RITA SANTOS
Qual é a mensagem que é essencial passar aos jogadores depois de quatro anos sem conquistar o campeonato?
Ambição, determinação e capacidade de trabalho no dia-a-dia é essencial. Temos que entrar aqui todos os dias e pensar que não é mais um dia, mas sim que é o dia. Fazer de cada dia o mais importante naquilo que é a nossa capacidade de trabalho e o nosso espírito de sacrífico, além de uma ambição e determinação muito grandes. Mas temos de demonstrar tudo isso em campo, não chega falar. É bonito falar, mas mais importante é sentir. O FC Porto vai treinar e jogar com esse estado de espírito. É essencial para sermos uma equipa muito difícil de bater. É mais do que meio caminho andado para atingirmos os nossos objetivos.

Nota:
Como a entrevista é muito longa, vou deixando a minha análise na caixa de comentários.

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